15 de dezembro de 2010

Na sombra da Sociedade

Um caminho sombrio, rasgado pela sombra do sol que não penetra, atravessado pela imensidão de alguéns vestidos de negro e de múltiplas cores. Sim, sem dúvida, não vejo maior motivo para caminhar.
Todos os dias, faça-se o que se fizer, somos capazes de nos deparar com muitas coisas que nos custam ver, que nos custam compreender. Todavia, eu, na minha pessoa, ainda me atrapalho, quase que apenas, comigo mesmo. Talvez não perceba os porquês ou talvez me custe entendê-los, mas, de facto, o orgulho existe mesmo na falta de compreensão.
Sinceramente, não me cabe na cabeça as motivações que levam alguém a debruçar-se sobre os cinismos da vida , pretendendo seguir, cegamento, mas de olhos bem abertos, aquilo que não são e tão pouco desejavam ser. É surreal que a entrega da personalidade, nos dias que correm, seja tão leviana e instrumental que, quase, muita gente, já o faça por instinto.
Uma coisa, caros leitores, vos posso garantir, se fosse como estes, não seria o que sou e o que sou deve-se ao trabalho que comigo faço todos os dias, olhando para mim.
Por vezes, sim, ocorre-me olhar para sociedade comum, mas o terror é tanto que acabo a preferir fechar-me em mim, lutando para que tudo mude. Fazer sentido ou não depende daqueles que interpretam as minhas e as palavra daqueles que talvez consigam ser meus inimigos, inimigos da palavra.
Para concluir, se me permitem, os desafios nunca são poucos e, para mim, dizer-vos que a minha vida não passa nem quero que passe de uma constante luta é um orgulho imenso, porque todos os dias encontro motivos novos ou semi-novos para o fazer.

JMP

14 de novembro de 2010

Eloquência natural

Olhando pela minha janela, observando o exterior, deparo-me com o balanço tépido de umas árvores que parecem querer dizer algo, mas calam no imenso movimento que praticam. Basta apenas uma simples rabanada de vento para que estas demonstrem a sua essência, nada dizendo, nada retorquindo para a vida.
É desta forma que ao observar estes elementos da natureza, sei que nada vejo, mas que vejo a realidade. A realidade de um mundo fraco e tremido, de uma sociedade parca em valores e pouco exigente. Provavelmente, está na moda (e porque se assim for nada há a fazer) retirar de moda os valores intrínsecos, regentes de uma comunidade. Na verdade, vivemos perante uma perspectiva economicista que apenas dá valor à distribuição do produto, desde que essa distribuição seja bem feita, ou seja, seja feita com enorme desigualdade e sem rigor.
Tal como a humanidade, estas árvores também irão morrer, também precisam de água para beber e de nutrientes para se alimentarem. De facto, um percurso de necessidades muito idêntico ao do Homem. No entanto, meus amigos e leitores, veja-se que até o são no comportamento. Abanam, mexem, batem as folhas e nada dizem. Parece-me um pouco como um comício politico: as pessoas abanam-se na desconfortáveis cadeiras destinadas à população, mexem-se e remexem-se à medida que os discursos as vão incomodando e o seu corpo vai ficando dormente, batem palmas mesmo não tendo percebido metade do que foi dito, mas... mas nada dizem para mudar!
Meus caros, não me restam dúvidas! O problema da nossa sociedade está na fraca capacidade de compreensão que o povo revela. Não tenho problema em admitir: julgo-nos um povo inculto e fragilizado.
Ao fim da tarde, ao olhar pela janela, as árvores lá estão, como que a observar tudo em seu redor, mas, surpreendentemente, já não mexem nem abanam, o vento parou...

31 de agosto de 2010

Um ópio, um desastre...

Absolutamente incrível e “cabrónico” o ópio do povo. Falo da religião e da crença e fé em toda a igreja, em todo o símbolo religioso.
Inocentes ou não (mais de acordo), entregam-se a uma figura pespegada numa cruz, dizendo bem forte: “ Sou teu, guia-me! Servir-te-ei!”. Escravatura? Ditadura? Qual destes o melhor? Será preciso refutar bem alto que a Idade Média e/ou os tempos de Salazar já lá vão? Tantas perguntas e nenhuma resposta, nem mesmo por parte daqueles que bem por dentro destes assuntos vivem e assentam.
Eu, e porque este é o meu espaço e aqui posso exprimir-me, tal como em todo o local do mundo, digo, caros leitores, que é absolutamente infeliz o facto de o ser humano (que tanto luta pela liberdade) se entregar a algo ou alguém , talvez alguma coisa, que dizem postular igualdade e amor e que, no fim, apenas desencadeia luta, guerra, relações de inferioridade/superioridade e destruição.
Na verdade, julguei e julgava que o mundo estava livre. Livre de repressão, livre da censura, mas pelos vistos não e simplesmente porque as pessoas não querem! Alguém julga que isto pode mudar? Já se esqueceram como era nos tempos da monarquia? Será necessário um livro de História??? Pois bem, ISTO nunca mudará! Se calhar, ao longo dos tempos, e porque o mundo foi mudando e (talvez) evoluído, todas estas “cabronhices” foram atenuadas, mas, simplesmente, porque lhes foi retirado grande parte do seu poder. Agora, hoje em dia, eles bem tentam, tentam... ir ganhando espaço para tentarem voltar a crescer, mas não podemos deixar. Eles são prepotentes, irrisórios, transeuntes e falsos. Se não, vejamos aquelas pessoas que aos Domingos se dão ao luxo (dizem elas) de se levantar cedo para ir à missa (das 11h:00min até às 12h:00min) apenas para tentarem ficar ilibadas dos pecados que cometeram a partir das 12h:01min do Domingo da semana anterior. Enganam-se a eles, e a quem pensa que eles naquilo acreditam. O que será isto?
Tenho sorte, tenho sorte de não me cansar de lutar, tenho sorte de ter a idade que tenho e poder pensar que muitos anos me restam para lutar. Eu sou livre e, não escondo o desejo de querer ver o mundo livre. Quebrar as mais diversas selas e prisões cansá-las e enfrentá-las é, uma das formas para atingir a liberdade de viver. Eu também acredito e tenho crenças, confio em mim, porque, pelo menos, ao olhar um espelho, a minha imagem reflecte e quando falo, a minha voz faz-se ouvir.

20 de junho de 2010

A viagem em mim

Sinceramente, naquilo que me diz respeito, uma viagem é e tem de ser sempre muito mais que um simples passeio, muito mais que uma simples viagem. Assim, cada viagem tem de ser encarada como A viagem.
Considero que todos os dias viajamos, dentro de nós e dentro de uma sociedade que nos rodeia e consome dia após dia. E sim, reflectindo sobre cada viagem que faço, seja para onde for, julgo que me desenvolvo e me vou conhecendo, a mim, quando penso que nada mais há para conhecer. Feliz ou infelizmente, quem sabe, ao viajar descobrimos outros povos, outras nações, outros costumes, enfim, simplesmente outras pessoas, diferentes ou iguais a tudo aquilo que sempre imaginámos.
A meu ver, julgo que devemos viver com o sentimento “prazeroso” de um mundo idêntico ao do “Peter Pan”, um mundo de sonhos e viagens constantes, na busca pela felicidade.
Uma viagem deve ser, assim, um momento de prazer e felicidade, um momento de busca e de complexidade, no qual nos devemos sentir bem, um momento de conquista, qualidade de vida e bem-estar.
Todavia, o problema surge quando este prazer, esta felicidade e este bem-estar não se alcançam. Aí, a vida deixa de ter o seu sentido lógico, a vida deixa de ser vida, porque ela é uma constante viagem, onde o normal não é normal e a irreverência tem de vir ao de cima.
Aqui, pretendo deixar bem claro que não tenho destino e apenas viajo por onde me levo e conduzo, viajo vivendo. Tendo, simplesmente, aprender a viver, para poder viajar.


12 de junho de 2010

Simplesmente nasci, nascido

Nascido para andar sozinho e para sozinho caminhar pelo infinito de tudo aquilo que não existe.
Foi num dia quente de Verão que resolvi dar uma dor de cabeça ao mundo, foi neste dia que chorei pela primeira vez. Desta vez, não me recordo, mas adivinho o propósito. Mais uma vez, lutar e nada mais que isso (como se isso pouco fosse)!
Nasci, nasci para me agradar e para me não arrepender, nasci para rebentar com a pobre e tristeza presença do mundo, na vida de cada um, que na minha vida existe, também. Nasci para me guiar, nasci para me determinar! Nasci para demonstrar a imposição de tudo aquilo que não quero que sigam, nasci para desfrutar da raiva e do furacão da necessidade de liberdade e de justiça. Nasci para combater a frustração do mundo, do meu mundo. Aquele que eu construo!
Nasci, simplesmente, para ser eu!

11 de junho de 2010

Aquela estupidez internamente incorporada

Todos os dias, a toda a hora, viajo sobre um mundo "irrealisticamente" formado e sustentado, onde grande parte das pessoas são estúpidas e horrorosamente aparentes.
É constante, em mim, a necessidade de perguntar e questionar esta gente, estes seres, se são sempre assim tão horrorosamente estúpidas, julgando-se estupidamente inteligentes, ou se encontram, naquele momento, a fazer um eforço suplementar.
Vivo sempre certo de que entre a verdade e a mentira existe sempre a dúvida e a dúvida é um posicionamento legitimado pela observação e experiência vivenciada.
Já dizia Popper que "o erro é o motor do conhecimento"!
Pobre sociedade horrenda, por ti eu não luto, lutarei pela justiça, pela igualdade e pela verdade e sempre por uma minoria que ainda existe e se irá manter.

4 de junho de 2010

O sofrimento do constante sentimento

É profundamente demarcado o facto de que, como já dizia Carlos Drummond de Andrade, a dor é inevitável e o sofrimento é opcional. Porém, quando me tento abstrair do carácter abstracto do pensamento só me resta a profundidade “desintelectual” do sentir, que me permite chegar mais alem, conhecer o sombrio e desvendar o encoberto. No entanto, se sinto para evitar a falsidade e tudo o que falacioso me parece, como poderei desvendar tudo em palavras? Serei obrigado a pensar? Em que ramo da mentira cairei?
De facto, eu sou eu comigo e ninguém nem nada poderá assumir o controlo de mim. Sou um eu uno e firmemente afirmado, num mundo falso e hipocritamente implícito numas realidades sonâmbulas e inexistentes.
No entanto, caio sempre na asneira de cair no raciocínio pensado, mesmo que tenha começado por um mais, ou completamente, sentido. É mais uma das minhas lutas! Sim, luto, com todo o empenho para combater o irreal da verdade e a ausência de justiça, mas ser eu, com toda a minha pujança é algo de que não abdico, sendo cada uma das minhas circunstâncias e características, intensamente.
Por vezes, parece-me que vivemos num mundo do Noddy, mesmo sem os guizos no carapuço, mundo em que tudo é colorido, fantasiado e uma simples brincadeira para certas idades. Terão todos vontade de ser “Noddies”?
Sinto-me cansado, raivoso e irritado, sentindo as minhas realidades circundarem-me, cheirando-as, tacteando-as, saboreando-as, ouvindo-as e vendo-as, mesmo no seu mai profundo estado de falsidade e “incompletidão”.
Não perfuro, como Descartes, a realidade ou não da minha existência. Contudo, prefiro também dizer: sinto, logo existo!, apesar de o meu carácter impulsivo e orgulhoso me conduzir ao raciocínio pensado, aquele que me faz sofrer.
E o problema começa agora. Se pensar faz realmente sofrer, por que é que sentindo também sofro? Sofro porque o ar é irrespirável, as pessoas inaudíveis, os sabores pálidos e pobres, e a conjuntura plácida e fraca. Começo assim a acreditar que tudo fará sentido, pensando, sempre para que os outros não sintam e não vençam.
Na realidade, já Maslow falava nas necessidades e sua hierarquia, mas eu , eu preciso de brilhar para mim, preciso de ser livre e de, sobretudo, poder ser eu. É por tudo isto e mais algumas coisas que odeio a perfeição e o carácter imposto da boa educação.
Sei que lutar me devolve ao sofrimento e daí este ser opcional. Todavia, lutarei até à minha vez de ser cremado, lutarei até à última dose de dióxido de carbono que terei para emitir no ar. Em suma, tento combater o sofrimento, algo talvez “incombatível”, mas...felizmente eu luto e felizmente eu sou eu!

2 de junho de 2010

A frustração de um mundo completamente desconjuntado

Raiva, ódio e rancor é o que consigo sentir por um mundo social completamente perdido nas ruas e trilhos da ociosidade e da melancolia. Ruas repletas de personagens tragicamente repugnantes que cruzam o caminho comigo, todos os dias, sem as poder evitar. Na verdade, também não o quero fazer, na medida em que amo a revolução e a luta, amo a conquista. Olho em volta e pouco mais vejo que prepotência em estado puro e inteligência e coerência em profundo estado de latência.
Nesta sociedade, a inteligência encontra-se “encamada”, completamente entubada e dependente de uma máquina para viver. Essa máquina somos todos aqueles que a temos de suportar e, ainda por cima, sustentar numa vida que queremos ao nosso rigor. Será lícita a Eutanásia?
Como se não fosse suficiente este degredo podre e mal cheiroso em quês estamos inseridos, todo este facto ainda me traz mais um problema, visto que digo e estipulo que para se ser meu amigo é necessário muito, mas para ser meu inimigo talvez seja preciso muito mais. Principal e certamente, para se ser meu inimigo é necessário ser-se inteligente, mas logo eu que gosto tanto de ter bons inimigos... Oh, o factor de dependência entre inteligência e meus inimigos faz com que quase ninguém me deixe ter o privilégio de o ter enquanto inimigo, que tristeza! Terei eu que mudar os rigorosos métodos de escolha?
Preciso de um mapa. Sim, não quero ir lá com a tecnologia do GPS, porque eu sou superior, eu sou especial, eu sou eu e sou inteligentemente estúpido para fingir o que bem me apetecer e o que não quero saber fazer! Preciso e quero um mapa para continuar a caminhar, mas azar dos azares daqueles que me rodeiam, todos os dias sou eu próprio a escrever o meu mapa, e esse, esse é só meu, guiado pelas minhas mãos e conduzido pelos meus passos de diabo sem nunca apontar a Deus.
Acredito, acredito que vivo num mundo completa e vividamente desconjuntado e frustrado por ser mundo. E aí sim reside o problema, na medida em que a frustração não é pelas características, mas sim por simplesmente ser mundo. Tenho vergonha da inércia causada propositadamente pelos inconscientes e pobres de espírito. São estes os que usam os argumentos mais estapafúrdios que me deixam sem saber se ria ou se tema!

29 de maio de 2010

Odeando a boa educação...

Odeio tudo aquilo que me faz não ser eu! Odeio e repugna-me tudo aquilo que me obriga a seguir parâmetros estipulados! Odeio não me poder mexer como quero!
Somos condenados pelo que dizemos, fazemos ou até pela forma como nos comportamos e como actuamos. Isto dá-me a ideia de que os professores e os teóricos da vida que falam no conceito de Aldeia Global se esquecem que isto é mas é uma Estupificidade Global, onde todos temos de seguir a etiqueta que não temos colada nas costas e o rótulo que os outros e todos querem de nós!
Sinto-me devorado pela sociedade e pela sua necessidade de parecença exterior, com algo que só existe de fachada. Concordo que seja bom rodearmos um assunto indo directo a ele, mas sabe muito melhor agarrar o touro pelos cornos. Não consigo compreender o fanatismo pela falsidade e pela incompletidão, não entendendo o poruê das pessoas em querem ser vistas na sociedade, iguais a ela. E é por isto, é por isto que hoje em dia nós somos mais aquilo que as outras pessoas julgam que nós somos, do que aquilo que nós realmente sabemos que somos. Sim, chegamos ao cúmulo, acabamos, muitas vezes, por não saber como agir, pensando naquilo que os outros devem gostar que nós façamos, mas isto numa perspectiva de socialmente correcto.
Estou engolido, engolido pela dispersão das verdadeiras personalidades de cada um e pela repressão que tudo aquilo que nos rodeia tenta atingir. Olho para alguém e já não sei o que ver, porque o espelho mostra esse alguém, mas também o raio da sociedade!




27 de maio de 2010

A inércia estupidificada

Todos os dias as pessoas impedem todos e todos, muito por tudo aquilo que a estupidez da maior parte da fantástica humanidade em que vivemos se resolve a fazer, a dizer e a pensar. A vida não é feita de prendas e felicidadezinhas de fantochada. Contudo, “derrota após derrota, até à vitória final” é desta forma que eu vivo e continuarei a viver, independentemente da fraqueza dos outros que me abrange pela sua imensidão de podre e irreal.
Caminho, todos os momentos, por trilhos conturbados, mas tudo aquilo que os conturba faz-me rir, rir à gargalhada, sem bem que, por vezes, não sei se ria se tema, não sei se ria se fuja.
Há um conjunto de pessoas que falam, sei serem capazes de dizerem alguma coisa, mas falam. Falam como se o amanhã fosse o fim, falam como que mentem, falam como que falseando a realidade que eles próprios postulam. Toda a inércia que estes indivíduos pretendem causar, apenas tem como fim a destruição dos outros, quando pela frente os incentivam.
Vivo numa sociedade acabada, uma sociedade fraca e sem escrúpulos éticos. Vivo num ambiente de masturbação cultural, onde cada um, por si só se sente prazeroso destruindo e combatendo os outros sem razão. Sim, eu comando-me por mim mesmo e sou eu mesmo, mas a destruição dos outros não me faz sentido. Sou por demais consciente para poder dizer que os meus inimigos se escolhem pela inteligência e não pela leviandade.
Digo-o, digo que o mundo está perdido, mas felizmente, felizmente há revolução, há luta e há ética e dignidade para defender dos tubarões sociais, tubarões insensatos, inconstantes e perturbados.
Felizmente há... felizmente ainda há pessoas!

19 de maio de 2010

Uma fuga até mim

Tenho de fugir! Sinto necessidade de, cada vez mais, me enquadrar em mim e em tudo aquilo que sou. Não consigo perceber este mundo patético e verdadeiramente “inconcebido”, onde a grande maioria se afunda numa profunda crise de valores, de ética e, porque não, de valores éticos. Não, não sou pessimista, mas de facto tentam manear um mundo que colocam de pernas para o ar como um belo atleta de ginástica.
Para alem de tudo, aquilo que mais me custa é o facto de as pessoas serem facilmente habituáveis e o Homem ser um animal de hábitos. Tudo isto leva a que, mesmo uma parte que contrapunha a realidade mais sonante, se vai juntando a eles, a eles, um “alguéns” que não conseguem vencer. Já lá dizia o ditado...
Na melhor das hipóteses, recebemos Sua Santidade, gastando balúrdios e ignorando uma série de “pormaiores”, relativos a muitos aspectos da realidade de cada indivíduo, mas na pior, na pior verificamos o Exmo. Sr. Presidente da República Portuguesa, a deixar bem claro que se não fosse a actual situação económico-financeira do pais, decidia e fundamentava, relativamente à temática do casamento entre pessoas do mesmo sexo, baseando-se em posições afincadamente pessoais. E isto apenas num curto e estreito rectângulo constituinte da península Ibérica que faz companhia à Espanha e que talvez, em posição de mapa, lhe coce as costas.
É-me muito complicado entender este mundo, quero o meu, anseio por estar dentro de mim, comigo e mais “migo”, podendo reger a minha loucura pela minha loucura. Necessito fugir, tenho necessidade de fuga, de fuga para mim, bem para dentro de mim!


16 de maio de 2010

Um constante agrupamento

Seguem-se os dias, seguem-se os momentos de uma vida ainda bem curta e espaçosa. No entanto, os agrupamentos continuam. Sendo impossível pensar um pensamento vazio de conteúdo, constantemente dou comigo a exercitar a mete, a mente do raciocínio. Não sei se bem se mal, porque, de facto, não sei o que são o bem e o mal. Raciocino, agrupo pensamentos, ideais, lógicas e sentimentos, relaciono tudo e distingo bem.
Cruzo cada dia, cada momento, e encontro sempre uma folha de papel, dentro do meu “Moleskine”, seguida de uma caneta verde, pois claro, que me pedem que os junte. Costumava pensar três vezes antes de o fazer, mas agora, agora limito-me a aceder ao pedido e quando este falha, eu deixo de ser eu. Posiciono o caderninho preto, agarro, com subtileza a esferográfica, fazendo-a deslizar por cima do papel. Pouco a pouco, palavra apos palavra, uma frase se forma e, de seguida, um parágrafo, um texto. Por esta razão eu digo e afirmo que nada mais faço do que juntar palavras, sendo que, por vezes, inventar algumas faz-me sentir vivo.
Juntar palavras, quaisquer que sejam elas, tenham o significado que tiverem. Junto-as! Observo o mundo, seus componentes e tenho-me como o meu mapa, o meu sitio, o meu eu. Não gosto de dizer que escrevo, porque não sei o que isso é. Limito-me a juntar simples palavras já existentes, talvez dando-lhes o sentido que bem me apetecer.
Contudo, há uma palavra de que nunca me consigo desligar: Saudade! Para mim, muito mais do que uma palavra caracterizadora do vocabulário português, mas sim um sentimento que, pelas pessoas certas, escolhidas por mim, ficará sempre comigo. Sentir saudade é muito mais do que sentir falta, é sentir a ausência em plena presença, é ser especialmente importante.
Desta forma, sonho, idealizo, sinto e penso, questionando-me sempre, mas nunca me atrevo a questionar a saudade, porque esta, esta só sente por quem sonhamos, por quem idealizamos, por quem sentimos algo, por quem pensamos e eu sei que se isto se passa dentro de mim é porque fui eu a escolher e determinar assim.
Serei, sempre, um simples agrupamento que consegue agrupar!



14 de maio de 2010

Um paradeiro imaginável

Calhou um dia de nevoeiro, mas daqueles em que D.Sebastião voltou a ficar em casa. Apenas resta o sonho, a transformação da realidade, a imaginação.
Seguindo nas estradas infindas de horizonte, tento cruzar-me com quem me aparece, com quem eu quero que apareça. Contudo, se olho para a frente apenas vejo nada e, olhando para os lados e para trás, mais nada vejo que o vazio. Estas estradas são a minha alma, uma alma sem rumo, mas com o rumo certo, uma alma forrada a carácter inteligentemente estúpido. Todas as pessoas que passam merecem a minha atenção, esta é uma alma personalizadamente exacerbada e tudo o que ela tem, tudo o que dela consta é tudo aquilo que eu quero, que eu crio e que eu escondo de mim mesmo. É difícil, por vezes, sonhar. Mais difícil é ser incompatível por eu apenas querer quem quero e o que quero. Porém, há momentos em que talvez tenhamos de sofrer, sofrer por um mal que não é nosso, mas de nós faz parte!
Hoje, mesmo que o dia tivesse sido de sol abrasador, na cidade da minha alma, o sentimento seria igual. Sou o que sou, o que quero ser!

11 de maio de 2010

Tipicidade portuguesa

Uma simples figura de Domingo. No entanto, desenganem-se, não vão à missa nem visitar a madrinha. Na realidade, o centro comercial e as baixas das cidades são, de facto, os locais de eleição.
Vejamos, o Zé Manel desfila de fato-de-treino azul escuro, verde e roxo, com uma camisa aos quadrados por debaixo do casaco, barba por fazer, coçando os pêlos da pança (que ao conduzir o obrigam a ficar a três metros do volante) e mostrando os mesmos da região peitoril suavemente cobertos com uma camisola interior, de alças, esbranquiçada. A sua postura não engana ninguém, tronco inclinado para trás por culpa dos consideráveis quilos a mais e uma barriga que nem uma grávida com nove meses de gestação ou uns litros de cerveja todos os dias conseguem igualar. Na rua, saca do cigarro e coloca os seus óculos de sol ray ban feirex, para que o estilo seja ainda maior. Dá uma primeira paça e não hesita em cuspir para o chão. Acabado o cigarro, é hora da pastilha elástica, elemento essencial para a demonstração de eterna badalhoquice, por ser mascada de boca, constantemente, aberta. Chegando a casa, abanca no sofá, já de molas dobradas, e liga o televisor no canal da bola, enquanto pede à Maria, que vai começando a fazer o jantar, que lhe traga uma cervejola bem fresquinha e, quem sabe, uns tremoços para acompanhar.
Meus amigos, o caso da Maria não é, de todo, mais exemplar. Acompanhando o seu homem na incursão ao centro comercial da zona, ela aperalta-se a rigor, esquecendo-se, porém, que a sua fisionomia pediria um pouco mais de tecido. Veste um vestido preto com brilhantes e coloca um cinto dourado na zona do peito (talvez para que quem passe olhe), deixando de cada lado, um exemplar modelo da Michelin, quem sabe para consumo próprio em caso de avaria no caminho. Calça umas meias pretas, rendadas e esburacadas que preenchem uns sapatos vermelhos envernizados, de tacão bem fino que, como andar naquilo é difícil, a faz andar torcendo, por completo as pernas. Vai avançando, abanando-se como gente, nos corredores, vendo as montras, mas curiosamente todas aquelas que vendem roupas que talvez a sua filha conseguiria usar. Problema! Ela experimenta mesmo e a rapariga da loja é obrigada a ir buscar o tamanho máximo ao armazém, ainda assim correndo o risco de ele rebentar e porque apenas quer vender, não é capaz de a mandar à loja em frente. A chiclete não falha, e a boca aberta com ela de um lado para o outro a deambular é presença obrigatória. Quanto à face, meus amigos, julgo que se consegue imaginar. Uma maquilhagem bem carregada de pretos e cores bem vivas, não chegando ao cumulo das espanholas, mas algo nojento. Chegada a casa, dirige-se para a cozinha e coloca-se a disposição de seu homem trabalhando nas lides domesticas e em tudo aquilo que ele desejar.
À noite, ui, aí nem eu quero retratar o que se poderá passar, prefiro imaginar algo mais aliciante, mas cuidado, as crianças têm de ser preservadas e, já agora, preservem-me desta constante orgia social!


8 de maio de 2010

Quando o sentimento identitário não passa de uma questão despida

Porque para nos sentirmos não precisamos de pensar. Porque para nos identificarmos, o pensamento não é necessariamente afincado. Eu sinto-me e sinto o mundo, espelho-me nele e nunca o espelho em mim. Apesar da enorme subjectividade de conceitos, o mal fica de fora e eu com ele fico, combatendo, lutando, exercendo-me sem esperar por ninguém.
Passo na rua e perguntam-me quem sou. De imediato a resposta surge como se de algo inato se tratasse, mas não, eu sou eu e com toda a raiva e determinação o digo dizendo que mim sou no mundo em que estou. Exalto-me, olho e nada vejo a não ser uma sociedade despida, despida de rigor ético e moral, uma sociedade numa intensa crise de valores e de mentalidade. Não se enganem, meus amigos, o hoje é hoje e não o ontem, avancemos. Uma sociedade despida de muita coisa que nem pele sei se possui, uma sociedade por demais cruel, onde a crueldade chega a ser materno-paternal. Ridiculamente existente!!
Estou desasado, não sei para onde me virar, mas para a frente sei que é o caminho, sem cobardias, sem fugas, sem medos. Vamos evoluir!
Ao perguntarem-nos quem somos, na realidade, nós apenas costumamos dizer o nome, sendo muito mas muito mais do que isso. Dia após dia construímos uma identidade poderosa que se sustenta numa moratória incrivelmente fabulosa, capaz de combater a crise, a crise social. Sim, não somos ninguém sem socialização, não somos ninguém sem os outros, mas eu sou eu mesmo com os outros em meu redor.
Porque quando o sentimento identitário não passa de uma questão despida é tempo de mudança e de combate, é tempo de ser tempo, é tempo de ser eu! Mas, cuidado, a minha construção fez-se e far-se-á, mas há muitos(as) que são despidos por natureza e a esses, nem o nome lhes fica bem!




26 de abril de 2010

"Dunas"

"Dunas, são como divãs,
Biombos indiscretos de alcatrão sujo
Rasgados por cactos e hortelãs,
Deitados nas Dunas, alheios a tudo,
Olhos penetrantes,
Pensamentos lavados.

Bebemos dos lábios, refrescos gelados (refrão)
Selamos segredos,
Saltamos rochedos,
Em camara lenta como na TV,
Palavras a mais na idade dos "PORQUÊ"

Dunas, como que são divãs
Quem nos visse deitados de cabelos molhados bastante enrolados
Sacos camas salgados,
Nas Dunas, roendo maçãs
A ver garrafas de óleo boiando vazias nas ondas da manhã

Bebemos dos lábios, refrescos gelados,
nas dunas!
Em camara lenta como na TV,
Nas dunas..
Nas dunas..
Naasss duunas...
Naasss duunas..
Refrescos gelados...
Como na Tv.
Nas duunas.."

GNR

Vem alguém de certo lugar

Cruzando as estradas da vida, vem alguém de certo lugar. Vem e chega alguém que me questiona sobre tudo e nada sem excepção. O porquê de ser assim, fazendo com que, muitas vezes, apenas quando a coisas sofem um abanão, eu me sinta no sentimento. Não posso, não quero nem, confesso, consigo medir sentimentos, mas há alguns que marcam e quando nós pensamos que os vamos continuar a ter por muitos e muitos momentos, algo surge que os abala. Porém, não é o próprio sentimento que abala, mas sim o presencear do mesmo, face-a-face. Não se merece ser perdoado, diz quem sente ao alguém que passa, mas tudo isto talvez não passe do constante batimento cardíaco que abrange todos e ninguém quando alguém passa.
Alguém passa, e por passar e sentir não tem coragem para confrontar quem sente, quem sente e quer dizer sem conseguir, quem sente e quer demonstrar sem reflectir. Alguém passa e não consegue dizer, talvez por também sentir, que quem sente falha, quem sente cai, que quem sente tem de saber levantar-se sozinho do alfalto flutuante. Algum alguém passou, algum alguém parou e quis dizer. Parou mas não disse! Por outro lado, quem acabou por nada ouvir, acaba por ouvir, ouvir o constante eco das suas mesmas palavras que sempre tentou proferir, esquecendo-se ou simplesmente não se recordando de que nada e nenhuma expressão transmite, na íntegra, aquilo que se quer expressar.
Vem alguém de certo lugar, alguém misterioso e bem conhecido, alguém sincero e sempre presente, alguém, alguém que faz despertar saudade mesmo quando presente, alguém que nunca mereceu este sentir, alguém extraordinário que merece, hoje e sempre, muito mais, muito melhor. Alguém que, mesmo assim, vem de certo lugar!

Sendo o que sou

Porque, talvez, se alguém me conhecesse, talvez me definisse ou me perguntasse o porquê de ser assim e o porquê de ser quem sou. Todas as definições que atribuo ao meu significado, e sim, eu conheço-me e sei bem quem sou e no que sou, são definições caracteristicamente minhas e só minhas. Definições que me caracterizam para mim, de forma inteiramente minha e somente isso.
De facto, de facto eu sou eu e sei muito bem com o que contar, sei muito bem gerir aquilo que sou e me caracteriza na minha imensidão sordidamente rica. É verdade, mas nem sempre, e ainda bem, tenho resposta para um elo totalizante de todos os acontecimentos que fazem parte da coisa mais débil e complicadamente simples do mundo: a vida. Na realidade, sou consciente, sou consciente de que a única acusação cintilante de que vou ser alvo é a de ser inteiramente e sempre eu, por mais que tudo isso custe e possa ser por demais doloroso. Poder olhar e conhecer-me no mundo é extremamente gratificante e, sinceramente, por vezes não decifro se serei eu espelhado no mundo ou o este espelhado em mim. Contudo, uma coisa é certa, o mundo é um local complexadamente ilusório e, aí, eu percebo que o meu retrato está presente, pela minha imensidão de ser eu!

25 de abril de 2010

"Somos livres (Uma gaivota voava voava)"

"Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo cualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás."

Ermelinda Duarte



E hoje, hoje todos nós podemos voar na igualdade da diferença entre cada um!

"Grândola vila morena"

"Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade"

Zeca Afonso




Somos livres! Ouçam-se as vozes da liberdade!

24 de abril de 2010

Filhos da madrugada

"Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca."

José Afonso

Asas de liberdade

Porque nada é melhor que o sentimento livre que podemos sentir perante a vida, perante o mundo. Porque o Homem sonha voar e mais do que voar, o Homem sonha... voar! Percorrer os céus, os céus azuis com resquícios brancos e os céus da alma que não faço ideia que cor terão. Porém, certo é que a minha azul não é certamente e, por vezes, talvez alcance tons mais próximos do escuro. No entanto, o Homem sonha e há quem diga que “Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce”. Apesar de alguma contrariedade da minha parte relativamente à primeira afirmação, a expressão não deixa de ter sentido, na medida em que eu e só eu fui, sou e serei o Deus da minha alma.
Já foi obsceno pensar voar, pensar Ciência também o foi e tudo mudou. Calaram-se muitas bocas, bocas que nem hoje conseguem falar. Bocas que têm medo do passado, do seu próprio passado. E mais do que medo dele, têm medo de o denunciar, mas sim, já todos o sabemos e apenas a ignorância convencida de que o confessionário resolve todos os problemas continua a cair naquele que é o maior “conto do vigário” existente hoje em dia: a Igreja Católica. Sim, a mesma igreja que considera que o fogo purifica almas, a mesma igreja que fez com que Galileu morresse sem poder ver o seu trabalho e descoberta recompensados, fazendo-o sofrer assim como a muitos outros, curiosamente todos os que dela duvidavam e todos os que a questionavam. A mesma igreja que fazia com que a liberdade desse origem aos autos-de-fé, a mesma igreja que se permite ser liderada por um Nazi. A mesma igreja que dá a cara por alguém que eu nunca vi! A mesma igreja que se pode comparar à ditadura finda em '74.
Voltando ao tema central, liberdade, liberdade para combater, combater pela liberdade. Combater contra quem tiver de ser, quer evoquem figuras existentes ou figuras sonhada e transcendentalmente concebidas, mas combater.
Amanhã devemos pensar naquilo que dá asas ao Homem, aquilo que foi conseguido pelo Homem: a liberdade, liberdade de viver. Vamos congratular o grande dia 25 de Abril de 1974 e vamos vivê-lo em 2010, livrando-nos de todos os ditadores por aí espalhados e semeados numa terra que tão fértil e tão parca parece ser. Vamos encarnar o grande Salgueiro Maia, vamos dar voz a José Afonso.
Afinal, afinal o Homem já pode voar!


"Vamos fazer o que ainda não foi feito"

Sei que me vês,
Quando os teus olhos me ignoram
Quando por dentro eu sei que choram
Sabes de mim
Eu sou aquele que se esconde
Sabe de ti sem saber onde
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Trago-te em mim
Mesmo que chova no verão
Queres dizer sim mas dizes não
Vamos fazer o que ainda não foi feito.

(refrão)
E eu sou mais do que te invento
Tu és um mundo com mundos por dentro,
E temos tanto para contar.
Vem esta noite,
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora,
Porque amanhã é sempre tarde de mais.

Eu sei que dói,
Sei como foi andares tão só por essa rua
As vozes que te chamam e tu na tua
Esse teu corpo é o teu porto é o teu jeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
Sabes quem sou
Para onde vou
A vida é curva não uma linha
As portas que se fecham e eu na minha
A tua sombra é o lugar onde me deito
(refrão)

Tens uma estrada,
Tenho uma mão cheia de nada.
Somos um todo imperfeito,
Tu és inteira e eu desfeito.
Vamos fazer o que ainda não foi feito.
(refrão)

Pedro Abrunhosa

De uma vez por todas, vamos primar pela diferença!

22 de abril de 2010

Um dia não são dias

Uma simples questão de pasmaceira! Um dia igual a tantos outros, daqueles que já nem ontem nem mesmo, quem sabe, nunca existiram. Um dia existencialmente fundamentado na felicidade lamechas de uma sociedade vidradamente ofuscada pelo horizonte inabalavelmente inatingível. Um dia, mais um dia tão igual e tão diferente. Um dia que apenas parece iludir algum sentimento já existente e preponderantemente assertivo que é o ódio. Não me deixo cair em cantigas de amigo ou cantigas de amor. Continuarei, bruscamente, na tentativa de desmoronar, não um muro de Berlim, nem uma questão biologicamente podre, mas sim todos os actos que se cometem como estando a ter um orgasmo, de tanto prazer que lhes dá visionar e construir o desprazer de outros. Mas aqui, aqui os pequenos gritinhos e gemidos são fundamentalmente centralizados numa questão crônica que é, somente, histeria. Não há paciência! O mundo parece, sempre, desatinar e tudo o que mais quero é desatinar mais rápido que ele para sempre poder dizer que estarei mais à frente. É, talvez, uma questão de orgulho, talvez aquilo que mais me define. Orgulha-me ser aquilo que ninguém espera que eu seja, em determinado momento, sendo igual a mim mesmo e igual a tudo o que sempre fui.
Apesar de tudo sei, sei que um dia não são dias! No entanto, eu estou aqui para todos e cada um!

21 de abril de 2010

Quando eu deixo de ser o centro

E por vezes acontece! Não controlo, não determino. Apenas afirmo e afirmo com muita vontade e querer.
Porque trabalho para ser o centro, para ser quem quero que eu seja, para arcar com o mais vasto leque de tudo aquilo que ninguém nem toda a gente pode levar e sustentar nas costas.
Acordo, acordo todos os dias com a cabeça frescamente entulhada de uma escuridão leve e gostosa que me faz dizer que sou eu. Quando abro os olhos, a nebulosidade é tanta que percebo que estou aqui, que estou num mundo meu. Com um duche tudo fica mais plácido e suave, o que me faz duvidar. Mas duvidar de tudo, de tudo quanto possa desenvolver-se. No entanto, rapidamente abandono as paredes de casa e me liberto para o mundo. Ah, o mundo tal como eu! Ofuscadamente conturbado e, sensivelmente, inconformado. Mas será tudo isto por ser eu quem está a ver? O que me interessa é que o é, tal e qual como eu quero que seja, mas para mim é claro! Não me apetece reflectir, mas sim apenas saber que fora das paredes de casa tudo é, tal e qual, como eu. Elucidadamente confuso e prazeroso. Contudo, a masturbação social não me chega, quero a terra bem pisada, a cabeça a explodir, quero o eco do ego sem saber quando acaba, repetindo o sentido de mim!
O mundo sou eu e é como o quero. É como o sinto e como me sinto nele! Sou eu e ele, nada mais!

20 de abril de 2010

A religião da verdade

Internamente uma verdade,
Num círculo de imensidão escura
Chamando e prejudicando a tempestade
De uma forma, deveras, por tortura.

Calem-se as bocas divagantes
Empurrem-nos os sentidos já notados.
Não somos todos iguais
Seremos sempre implicados.

Uma verdade só
Não chega para viver
E é no espirito dogmático
Que tencionam morrer.

A verdade cresce à medida de cada um.
Somos selvaticamente nós,
Porque nascerá mais algum
Que nada mais será que pó!

Por vezes magoa indiscriminadamente,
Melhor é sentir, melhor é merecer
Do que apenas curvadamente atender!

Algumas coisas do sentido

Sim, nem tudo é mau, apesar de nem tudo ser bom. Mesmo não gostando de apoios de ninguém, é obviamente assertivo que estarmos rodeados de pessoas que queremos e amamos é essencial. Não sei, sinceramente, se o é por ser ou se o é por necessidade biologicamente inata, mas sei. Sei que tudo passa a fazer mais sentido, mesmo quando pouco faz.
É, na minha opinião, correctamente determinado que muito do que somos necessitados se preenche com a aparição, não da virgem Maria, nem tão pouco do estatuto papal, mas sim com a aparição, junto de nós, de todos aqueles a quem queremos e de todos aqueles a quem, muitas vezes, não queremos que nada aconteça, mas sempre estão do nosso lado e disponíveis para a nossa vida, incorporando-a na sua. Incrível!
Talvez infelizmente sou como sou!


E assim é...

Mas nada termina nem acaba, nada começa nem inicia. Tudo se desenrola por algo já existente, já iniciado e sem fim à vista.
Arduamente dou comigo a pensar no que seria tudo se tudo não existisse e, problema dos problemas, já não faço sentido sem tudo e tudo deixa de fazer sentido se não existir. Complexo! É como que uma construção de prédio: primeiro os alicerces e depois tudo se forra por um revestimento, talvez irreal, mas sempre, sempre existente. É como que uma relação de dependência conjugal, altamente dispensável, mas constantemente presente. Engraçado! Uma posição tão antitética, mas tão real. E o problema, o problema é ter de viver com tudo isto, com todo este surrealismo. Mas vivo, sobrevivendo de uma forma lutadoramente enraizada. Aprendo, aprendo que a cada momento em que penso que tudo parou, tudo volta sem nunca ter ido, tudo surge sem nunca ter desaparecido.
Mas calma, sou vivo e bem acordado. Tudo o que sou faz-me sentido, mesmo que, por vezes, hesite por um momento. Construo o meu sentido, fabrico a minha identidade, olhando para a minha sombra e para o meu chão, tentando ignorar Thorndike, Bandura ou até mesmo Freud, sempre sabendo que estão, suas teorias, por trás de muito daquilo que sucede. No entanto, é a constante noção de incompletidão que me faz lutar, lutar contra tudo aquilo que me faz frente e mais, contra todos aqueles que não são mais que umas minas de esgoto corrido, sem ideais, forças ou presença. Porque algumas pessoas necessitam de chorar, chorar para se lavarem, chorarem para, finalmente, limparem a sua sujidade prefuraduramente impestante.
Mais do que sonhar ou idealizar, actuo, ajo! Aprendi a agir, em certas ocasiões, sem pensar duas vezes, agir para contra-actuar, sabendo construir um puzzle com todas as suas peças no local excatamente inverso.




19 de abril de 2010

Um eu diferente de mim

Porque talvez o mundo seja apenas eu. Porque talvez o mundo seja apenas eu e os meus próximos, excuindo todos os outros. Porque talvez o mundo seja aquilo que eu quero que seja. Porque talvez o mundo seja tudo o que não é. Porque eu talvez seja aquilo que sou no mundo.
Um olhar basta para perceber a imensidão da complexidade do mundo. No entanto, um olhar não basta para o olhar, um olhar não basta para o perceber. Mas para quê perceber? Para quê tentar perceber um mundo se, por vezes, nem a mim me entendo, nem a mim me estipulo. Quero que o mundo seja meu, quero que seja como o quero e como o determino. E é! É-o sem eu perguntar porquê. É uma imensidão de lodo e poeira corrente que fere os olhos ao minimo contacto, mas é! É o meu mundo, concepcionado e adorado pela minha mente penetrante que nada mais sabe se não perguntar.É, de certeza o mundo que eu interpreto e, dia após dia, construo, sem margens, sem limites, apenas comigo. Comigo e com todos aqueles que Quero que dele façam parte, (in)felizmente com alguns aparecimentos constragedores com os quais eu tento gozar e ridicularizar, pois mais nada me sugere.
O mundo é real quando sou eu a criar as minhas mais árduas dificuldades e, penssando um "pensamento vazio de conteúdo", Pereira.J 2009, na sua totalizante impossibilidade crónica, eu sou eu. Sou alguém diferente daquele que todos os dias olha pela janela. Sou o mesmo que todas as manhãs acorda por acordar, sou eu.
Eu sou o meu mundo e o meu mundo sou eu com quem me quero. Mas atenção, não se pense que quero apenas por amor ou amizade. Não, quero por ódio e por constragimento, quero para acção, quero para destruição.
Sou eu, sim, eu! Um só eu apenas e só diferente de mim mesmo!

16 de abril de 2010

Quando uma ponte não tem fim

É difícil, ou até mesmo impossívelmente possível olhar um destino inatingível. É um sonho, uma miragem, uma ponte que não tem fim. É, em absoluto, o contrário da vida. É algo sem fim momentâneo, sem vista futura. É nem sei bem o quê!
A sua forma é torcida, seus traços rebuscados. É o que não sei dizer!
Projecto no horizonte uma mente aberta ao espanto, um sonho idealizado. Não sei bem o que projectar.
Toco numa das suas pontas e sinto prazer, prazer que apenas, e quem sabe talvez não, Freud pode entender. Não sei o que toco!
Sou atraiçoado pela verdadeira hipótese sensitiva, não me controlo. Estou enraivecido!
Ao olhar em volta nada vejo a não ser decadência. Decadência sentimentalmente projectada, tudo o que existe não vale nada!
Riu-me, riu porque não sei se hei-de chorar, outrora já me apeteceu, mas agora, agora e sempre, vou enfrentar. Caminhar por uma ponte que sei não ter fim, uma ponte para a vida, com a vida, uma ponte que mais ninguém pode passar.
Sim, és tu! És um tormento que não sei bem o que és. És a obecessão, a burrice, a estupidez e a melancolia. A melancolia que os meus olhos vêem quando apareces, algo tapada com uma capa raivosa que nada mais cobre, a não ser um horrendo sentido!
Sonhas ser o que outro tem, mas não passas de uma podridão excremental deixada ao sol, completamente seca e pisada.
Não tem forma, mas já sei no que toco e o que projecto. É uma história, uma história com fins desfindados que nunca finadará e o prazer, esse é ódio!


15 de abril de 2010

O indomesticável sentido da minha existência

Selvaticamente um vagabundo honroso, com principios, ética e desumanidade perfeita. Tal vez seja uma definição óptima para aquilo que sou comigo e dentro de mim, quando todos os conceitos são destacados no seu mais valeroso e intimo significado.
Acredito, acredito em mim, descartando, á partida, falsos fundamentos. Acredito que sou alguém num mundo vazio e inteiramente profetizado para todo um conjunto de pré-concepções que apenas são nada.
Olho para tudo e tudo me parece vago, excepto a significância dos dois melhores termos sentimentais: a amizade e o amor, sendo que é importante reter que para se ser meu amigo não é preciso nada menos do que para inimigo ser. É com um olhar profundamente activo que penetro na circunstância local, num mundo sentido de inconsistência.
Nascemos, sem pedir a ninguém para o fazer, ou seja, selvaticamente. Vivemos altamente condicionados pelo pensamento abundante do nosso recurso. Até que morremos e convém que sintamos o orgulho de sermos quem somos e de termos sido quem fomos, preferencialmente um contexto de condenação à liberdade.
E é assim, não me sigo por nada nem ninguém. Quero seguir os passos que os meus pés traçam no asfalto, sem me sentir obrigado e/ou condionadamente estagnado. Sou livre, sou eu! Menino, rapaz, homem de todos os pólos livremente escolhidos e identificados.

O vasto e poderoso preenchimento do vazio

É verdade! O que será o vazio, sendo algo que nada é ou algo que nada tem? É-me especialmente difícil pensar e gostar da simplicidade. Faço a constante asneira de criticar, construtivamente, ou pelo menos procurar fazê-lo, tudo aquilo que me dizem ou me tentam induzir. Não creio em teorias dogmaticamente sustentadas pelos pré-conceitos previamente formados e estipulados, de forma abrupta, como verídicos e inquestionáveis.
Quando me questiono, e não são poucas as vezes, à cerca de temáticas sem resposta aparentemente fácil ou determinada, verifico que tudo não passa de um vazio repleto de uma toda imensidão constantemente rebuscada para co-ligar a vida e os momentos de cada um dos meros enfeites racionais que decoram a humanidade. Uma humanidade cheia de um vazio imensamente doloroso, onde ninguém e toda a gente procura algo escondido, algo que não se sabe bem o que é. No entanto, há quem lhe dê tantos nomes e tantas definições! Há quem lhe chame felicidade, há quem lhe chame...algo!
Um problema, é um problema quando mesmo não arranjando respostas afincadamente plausíveis colocamos uma nova questão em cima de uma resposta, ao fim ao cabo, não obtida.
Sim, simplesmente algo, simplesmente a vida, simplesmente um vazio transbordante!

13 de abril de 2010

Um exemplo, o meu exemplo, a minha cara, a minha personalidade

"Nasce Selvagem"
Delfins

"Mais do que a um país
que a uma família ou geração
Mais do que a uma passado
Que a uma história ou tradição
Tu pertences a ti
Não és de ninguém
Mais do que a um patrão
A uma rotina ou profissão
Mais do que a um partido
que a uma equipa ou religião
Tu pertences a ti
Não és de ninguém

Vive selvagem
E para ti serás alguém
Nesta viagem

Quando alguém nasce
Nasce selvagem
Não é de ninguém

Quando alguém nasce
Nasce selvagem
Não é de ninguém
De ninguém
..."

12 de abril de 2010

Era uma vez uma história inacabada

Era uma vez uma história perdida na imensidão do mundo “intelectualizadamente” ferido por dentro e por fora de uma enormidade sentimental.
Dia após dia, momento após momento uma história verídica, honrosamente covarde, salta à mente de uma pequena enorme estrutura preliminar subjugada ao forte contraste que a vida causa em toda a preparação da morte. Na verdade, era uma vez uma história perdida, mas uma história, uma história não fantasiada, mas “fantasiadamente” verdadeira que como toda e qualquer história de fantasia apenas se perde, nunca se esquece.
Quando revemos os fabulosos contos de Walt Disney, por exemplo, percebemos que cada história contem, pelo menos, um pouco de nós. Um pedaço intimamente público que todos e ninguém lhe pode chegar. Não é propriamente um pedaço solto, sendo uma pequena partícula de toda uma história infindável à qual mais ninguém pode ter acesso. Não pode ter acesso, porque desabafar é algo que todos fazemos, mas aqueles que não se encontram necessitam de se expor. Eu faço-o, faço tudo para mim, comigo e porque tudo o que faço comigo se espelha em mim, partilho-o com quem quiser observar. Não, não gosto de ser observado, mas a história propicia que muita gente tenha os olhos postos em mim e naquilo que não faço. Sim, porque tudo o que faço não interessa a ninguém. Tudo o que digo não quero dizer, sabendo que se não disser ficarei grávido de uma enorme “repudiação”.
Sim, é nos contos, nas fabulas ou em qualquer autor de fantasia que a verdadeira magia se encontra. A magia de saber ser mago comigo mesmo.
Era uma vez, era uma vez um momento, uma época, uma história eficiente num carácter épico de pura deficiência existencial. Uma história de tristeza, mágoa e força. Uma força vinda da natureza da força poderosa de uma cabeça pensante, hoje que não é preciso ter medo de pensar, mas é sim preciso saber pensar em não pensar naquilo que não queremos nem temos de pensar. Há que provar, provar que a sobrevivência não depende do raciocínio, mas é tão puro e tão enganador, é tão correcto e tão insurrecto que a dúvida permanece.
Era uma vez uma história que terá continuidade, será futura como eu e o meu sentido necessário de “genealizar”, até porque quero um dia dizer que “a minha glória é criar desumanidade”.
Era uma vez uma história chamada vida, era uma vez...

7 de abril de 2010

A questão do regresso

Não sei se tudo o que sucede me será novidade ou algo fora daquilo que é o ambiente, normalmente, comum. Não sei se aquilo que me abrange é a minha real realidade ou apenas uma mera reticência de um argumento falacioso que surge na superfície de uma conjuntura irónica de acontecimentos.
Tudo o que surge, talvez surja numa perspectiva destinada, num destino não programado e fragilizadamente acertivo. Contudo, tudo o que surge pode até, passado algum tempo, parecer que ficou ultrapassado, mas na realidade os acontecimentos futuros, na base da sua essência estrutural, têm algo que os relaciona com tudo aquilo que para trás ficou. O presente é uma réplica continuada do passado e uma firme base para o futuro. Assim, no meu ponto de vista, é fácil perceber a questão do regresso. O regresso é uma totalidade miticamente caracterizado por nada, por coisas que esquecemos e que deixamos enterradas numa solidão de ser e de existir.
Cada acto, cada regresso, pode ter a sua simbologia num simples gesto, num abraço. Um abraço companheiro, um abraço colectivo, um abraço!
O sentido de existir para regressar, é um sentido existencialmente fundamentado para que tudo aconteça e retorne, e retorne, e retorne...

27 de março de 2010

As ideias que não tenho

Não sei porque penso, o que penso nem, tão pouco, porque penso o que não quero pensar sem ser capaz de pensar tudo aquilo em que realmente quero pensar.
Em primeiro lugar, a culpa não pode ser minha porque em tudo o que faço, penso ou digo, nem sempre estou certo mas nunca estou errado, sabendo, porém, que pensar no que não quero pensar é pensar mesmo sem desejar.
Constato que as ideias que tenho estão em mim entranhadas, sentindo-me, como que grávido de algo que não é, tão pouco, algo palpável, procurando eu desenvolvê-las à minha maneira, nunca errada, simplesmente porque é a minha maneira.
As ideias que não tenho são, numa óptica muito esquisita, mas minha, mais relevantes do que todas aquelas que todos os dias, todas as horas e todos o minutos, me ocupam o espírito e a alma como que se de preocupações, apenas, se tratassem.
Contudo, há um facto que me custa ver nos outros, mas que os outros dizem que é errado, apesar de ser meu, que é o acto de as essoas se limitarem, muitas vezes, a seguir um conjunto de ideologias, comandantes de um conjunto de atitudes tomadas, curiosamente às quais não se atribuem culpas.
Eu? Eu sou livre. Sou livremente dono de mim mesmo e plenamente consciente de tudo aquilo que faço. Não tenho a alma presa aos pré conceitos estipulados por algo ou alguém que pretende comandar as vidas de todos aqueles que adoram prender-se e prenderem toda a sua liberdade.
Sou livre, racional, capaz e como uma inteligência suficientemente estúpida para que eu guie os meus próprios passos, não me deixando ir por um caminho pelo qual alguém me diz para ir. Oh saudoso José Régio, como toda a tua ira, sarcasmo e plenitude me agradam! Tu sim demonstras saber viver, saber libertar toda a liberdade de que todos somos feitos, mas que só alguns sabem usar. As pessoas são incompletas, incapazes e de uma burrice levada ao extremo. Isto é, deveras, doloroso.
As ideias que não tenho são aquelas que quero ter, não querendo alcançar, para que a vida me dê seguimento e eu a ela.
Sou o que sou, sou livre e capaz, porque "Quando um Homem nasce, nasce selvagem..." e a selva, imune a prisões daqueles inconsequentes que tentam ser estupidamente inteligentes, não passando de meros burros de duas pernas, é o mundo onde tudo se desenvolve, mesmo quando não sabemos o porquê de termos de pensar para existir.

13 de março de 2010

As questões de todos os dias

Pensar, viver, morrer, existir, algumas palavras que, de uma forma constante, nos abrangem em forma de questões. Questões às quais, muitas vezes, não conseguimos dar respostas. E para quê procurá-las? Para quê fazê-lo se sabemos de ante-mão que todas as respostas que vamos encontrar nos aparecerão em estrutura de questão?
A vida baseia-se em questões que encontram como respostas outras simples questões. O conhecimento parece não evoluir e, no entanto, devemos aprender que tudo quanto seja conhecimento se busca partindo de conhecimento já existente e todas as obtenções não passarão de meras interrogações e mais interrogações.
Caro leitor, limite-se a tentar compreender o que é a morte e o que é a vida ou o que é o bem e o que é o mal. Pois bem, se não fosse o simples complexo sentido bipolar de cada conceito mencionado, talvez não conseguissemos, sequer, abrir a boca para definir. Apenas sabemos que bem é o contrário de mal e vida o contrário de morte, todas as demais palavras são apenas complementos sem qualquer tipo de complementaridade.
Posto isto, tudo o que alcançamos, podemos concluir que nos lança na continuidade infinita de uma rampa sem fim, onde todos nós entramos por mais banal que seja o elemento a conhecer, mas será que chegamos a conhecer? Sim, apenas usemos o olhar, o tacto, o olfacto, o paladar e podemos ter certezas que tudo quanto precisamos saber está claro e conciso. Olhemos apenas para o carácter sensorial.
Por fim, e porque não podia deixar de ser, deixo, aqui, mais uma "questão de todos os dias": Será a vida apenas um preparativo para a morte? Pereira. J., 2009

26 de fevereiro de 2010

As coisas

Simplesmente coisas! O que terão mais?
É regular depararmo-nos com muitas coisas, durante cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo. No entanto, algo que me repugna de certa maneira é o facto de parecer ser necessário olhar para as coisas procurando nelas um sentido oculto que elas não têm de ter. Será que não podemos olhar para as coisas em nossa volta e apenas ver o que a realidade nos demonstra? Será que somos permitidos a isso?
São tantas as perguntas às quais nós não conseguimos dar resposta, mas é assim que conseguimos fazer com que a vida faça sentido sem fazer, propriamente, um sentido prático e concreto. Afinal, o que é o concreto?
O mundo devora-me, devorando-me lentamente naquela que é a maior celeridade que pode existir, vai-me corroendo, mas a necessidade de buscar mais é inevitável, cause isso o que causar.
De facto, quando passo na vida e me deparo com as coisas, quero convencer-me que elas são aquilo e aquilo mesmo, tendo por único sentido obscuro e oculto, o facto de não o terem, de não terem significado e terem apenas e só existência real.
"As cousas são o único sentido oculto das cousas", já dizia Alberto Caeiro, mas eu, em todas as análises que faço das coisas,não me consigo abster e caio no erro de tentação,de procurar o fim, o interior. Não excluo o mar, pois acredito que mesmo sofrendo, com o uso dos sentidos e da intelectualização dos mesmos, serei capaz de ver, analisar e interpretar para além do que a minha realidade me permite observar.

18 de fevereiro de 2010

Cântico Negro

" "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

José Régio

17 de fevereiro de 2010

O sentido do princípio

É de notar que, diariamente, todos nós somos confrontados com o significado e amplitude do princípio das coisas.
Na verdade, julgo sabermos reconhecer que tudo quanto nos aparece, tudo quanto acontece, tem um princípio. Mas será que sabemos mesmo? Será que é factual que o haja? Nada melhor do que um conjunto de questões para (não) responder a uma qualquer interpelação.
Por outro lado, cabe-me colocar uma dúvida minha. O que será o fim? Será, o fim, um tempo acabado, um sinal de barreira intransponível? Penssemos então na questão da morte. Por que razão, na nossa cultura, a morte é entendida como motivo de angústia, tristeza e, sobretudo, fim? Para mim, a resposta é simples. Tudo isto passa por uma tentativa, quem sabe involuntária, de egoísmo, porque para além de pensarmos que uma vida fica por ali, pensamos em nós e na nossa (in)capacidade de lidar e enfrentar todo o sucedido.
Resumidamente, é assim na vida, é assim com a vida, é assim para a vida!
Em suma, e numa tentativa de lançar este espaço que hoje se abre, digo-vos: este é um começo, um princípio, mas talvez, também,sempre, o fim de algo. Talvez por tudo isto, à medida que vamos progredindo no nosso pensamento e nas nossas faculdades, podemos dizer que vamos e andamos num caminho sem fim, mas talvez sem princípio. Um caminho sem marcas prévias e, portanto, sem luz, quer no princípio quer no fim!