11 de maio de 2010

Tipicidade portuguesa

Uma simples figura de Domingo. No entanto, desenganem-se, não vão à missa nem visitar a madrinha. Na realidade, o centro comercial e as baixas das cidades são, de facto, os locais de eleição.
Vejamos, o Zé Manel desfila de fato-de-treino azul escuro, verde e roxo, com uma camisa aos quadrados por debaixo do casaco, barba por fazer, coçando os pêlos da pança (que ao conduzir o obrigam a ficar a três metros do volante) e mostrando os mesmos da região peitoril suavemente cobertos com uma camisola interior, de alças, esbranquiçada. A sua postura não engana ninguém, tronco inclinado para trás por culpa dos consideráveis quilos a mais e uma barriga que nem uma grávida com nove meses de gestação ou uns litros de cerveja todos os dias conseguem igualar. Na rua, saca do cigarro e coloca os seus óculos de sol ray ban feirex, para que o estilo seja ainda maior. Dá uma primeira paça e não hesita em cuspir para o chão. Acabado o cigarro, é hora da pastilha elástica, elemento essencial para a demonstração de eterna badalhoquice, por ser mascada de boca, constantemente, aberta. Chegando a casa, abanca no sofá, já de molas dobradas, e liga o televisor no canal da bola, enquanto pede à Maria, que vai começando a fazer o jantar, que lhe traga uma cervejola bem fresquinha e, quem sabe, uns tremoços para acompanhar.
Meus amigos, o caso da Maria não é, de todo, mais exemplar. Acompanhando o seu homem na incursão ao centro comercial da zona, ela aperalta-se a rigor, esquecendo-se, porém, que a sua fisionomia pediria um pouco mais de tecido. Veste um vestido preto com brilhantes e coloca um cinto dourado na zona do peito (talvez para que quem passe olhe), deixando de cada lado, um exemplar modelo da Michelin, quem sabe para consumo próprio em caso de avaria no caminho. Calça umas meias pretas, rendadas e esburacadas que preenchem uns sapatos vermelhos envernizados, de tacão bem fino que, como andar naquilo é difícil, a faz andar torcendo, por completo as pernas. Vai avançando, abanando-se como gente, nos corredores, vendo as montras, mas curiosamente todas aquelas que vendem roupas que talvez a sua filha conseguiria usar. Problema! Ela experimenta mesmo e a rapariga da loja é obrigada a ir buscar o tamanho máximo ao armazém, ainda assim correndo o risco de ele rebentar e porque apenas quer vender, não é capaz de a mandar à loja em frente. A chiclete não falha, e a boca aberta com ela de um lado para o outro a deambular é presença obrigatória. Quanto à face, meus amigos, julgo que se consegue imaginar. Uma maquilhagem bem carregada de pretos e cores bem vivas, não chegando ao cumulo das espanholas, mas algo nojento. Chegada a casa, dirige-se para a cozinha e coloca-se a disposição de seu homem trabalhando nas lides domesticas e em tudo aquilo que ele desejar.
À noite, ui, aí nem eu quero retratar o que se poderá passar, prefiro imaginar algo mais aliciante, mas cuidado, as crianças têm de ser preservadas e, já agora, preservem-me desta constante orgia social!


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