4 de junho de 2010

O sofrimento do constante sentimento

É profundamente demarcado o facto de que, como já dizia Carlos Drummond de Andrade, a dor é inevitável e o sofrimento é opcional. Porém, quando me tento abstrair do carácter abstracto do pensamento só me resta a profundidade “desintelectual” do sentir, que me permite chegar mais alem, conhecer o sombrio e desvendar o encoberto. No entanto, se sinto para evitar a falsidade e tudo o que falacioso me parece, como poderei desvendar tudo em palavras? Serei obrigado a pensar? Em que ramo da mentira cairei?
De facto, eu sou eu comigo e ninguém nem nada poderá assumir o controlo de mim. Sou um eu uno e firmemente afirmado, num mundo falso e hipocritamente implícito numas realidades sonâmbulas e inexistentes.
No entanto, caio sempre na asneira de cair no raciocínio pensado, mesmo que tenha começado por um mais, ou completamente, sentido. É mais uma das minhas lutas! Sim, luto, com todo o empenho para combater o irreal da verdade e a ausência de justiça, mas ser eu, com toda a minha pujança é algo de que não abdico, sendo cada uma das minhas circunstâncias e características, intensamente.
Por vezes, parece-me que vivemos num mundo do Noddy, mesmo sem os guizos no carapuço, mundo em que tudo é colorido, fantasiado e uma simples brincadeira para certas idades. Terão todos vontade de ser “Noddies”?
Sinto-me cansado, raivoso e irritado, sentindo as minhas realidades circundarem-me, cheirando-as, tacteando-as, saboreando-as, ouvindo-as e vendo-as, mesmo no seu mai profundo estado de falsidade e “incompletidão”.
Não perfuro, como Descartes, a realidade ou não da minha existência. Contudo, prefiro também dizer: sinto, logo existo!, apesar de o meu carácter impulsivo e orgulhoso me conduzir ao raciocínio pensado, aquele que me faz sofrer.
E o problema começa agora. Se pensar faz realmente sofrer, por que é que sentindo também sofro? Sofro porque o ar é irrespirável, as pessoas inaudíveis, os sabores pálidos e pobres, e a conjuntura plácida e fraca. Começo assim a acreditar que tudo fará sentido, pensando, sempre para que os outros não sintam e não vençam.
Na realidade, já Maslow falava nas necessidades e sua hierarquia, mas eu , eu preciso de brilhar para mim, preciso de ser livre e de, sobretudo, poder ser eu. É por tudo isto e mais algumas coisas que odeio a perfeição e o carácter imposto da boa educação.
Sei que lutar me devolve ao sofrimento e daí este ser opcional. Todavia, lutarei até à minha vez de ser cremado, lutarei até à última dose de dióxido de carbono que terei para emitir no ar. Em suma, tento combater o sofrimento, algo talvez “incombatível”, mas...felizmente eu luto e felizmente eu sou eu!

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