27 de março de 2010

As ideias que não tenho

Não sei porque penso, o que penso nem, tão pouco, porque penso o que não quero pensar sem ser capaz de pensar tudo aquilo em que realmente quero pensar.
Em primeiro lugar, a culpa não pode ser minha porque em tudo o que faço, penso ou digo, nem sempre estou certo mas nunca estou errado, sabendo, porém, que pensar no que não quero pensar é pensar mesmo sem desejar.
Constato que as ideias que tenho estão em mim entranhadas, sentindo-me, como que grávido de algo que não é, tão pouco, algo palpável, procurando eu desenvolvê-las à minha maneira, nunca errada, simplesmente porque é a minha maneira.
As ideias que não tenho são, numa óptica muito esquisita, mas minha, mais relevantes do que todas aquelas que todos os dias, todas as horas e todos o minutos, me ocupam o espírito e a alma como que se de preocupações, apenas, se tratassem.
Contudo, há um facto que me custa ver nos outros, mas que os outros dizem que é errado, apesar de ser meu, que é o acto de as essoas se limitarem, muitas vezes, a seguir um conjunto de ideologias, comandantes de um conjunto de atitudes tomadas, curiosamente às quais não se atribuem culpas.
Eu? Eu sou livre. Sou livremente dono de mim mesmo e plenamente consciente de tudo aquilo que faço. Não tenho a alma presa aos pré conceitos estipulados por algo ou alguém que pretende comandar as vidas de todos aqueles que adoram prender-se e prenderem toda a sua liberdade.
Sou livre, racional, capaz e como uma inteligência suficientemente estúpida para que eu guie os meus próprios passos, não me deixando ir por um caminho pelo qual alguém me diz para ir. Oh saudoso José Régio, como toda a tua ira, sarcasmo e plenitude me agradam! Tu sim demonstras saber viver, saber libertar toda a liberdade de que todos somos feitos, mas que só alguns sabem usar. As pessoas são incompletas, incapazes e de uma burrice levada ao extremo. Isto é, deveras, doloroso.
As ideias que não tenho são aquelas que quero ter, não querendo alcançar, para que a vida me dê seguimento e eu a ela.
Sou o que sou, sou livre e capaz, porque "Quando um Homem nasce, nasce selvagem..." e a selva, imune a prisões daqueles inconsequentes que tentam ser estupidamente inteligentes, não passando de meros burros de duas pernas, é o mundo onde tudo se desenvolve, mesmo quando não sabemos o porquê de termos de pensar para existir.

13 de março de 2010

As questões de todos os dias

Pensar, viver, morrer, existir, algumas palavras que, de uma forma constante, nos abrangem em forma de questões. Questões às quais, muitas vezes, não conseguimos dar respostas. E para quê procurá-las? Para quê fazê-lo se sabemos de ante-mão que todas as respostas que vamos encontrar nos aparecerão em estrutura de questão?
A vida baseia-se em questões que encontram como respostas outras simples questões. O conhecimento parece não evoluir e, no entanto, devemos aprender que tudo quanto seja conhecimento se busca partindo de conhecimento já existente e todas as obtenções não passarão de meras interrogações e mais interrogações.
Caro leitor, limite-se a tentar compreender o que é a morte e o que é a vida ou o que é o bem e o que é o mal. Pois bem, se não fosse o simples complexo sentido bipolar de cada conceito mencionado, talvez não conseguissemos, sequer, abrir a boca para definir. Apenas sabemos que bem é o contrário de mal e vida o contrário de morte, todas as demais palavras são apenas complementos sem qualquer tipo de complementaridade.
Posto isto, tudo o que alcançamos, podemos concluir que nos lança na continuidade infinita de uma rampa sem fim, onde todos nós entramos por mais banal que seja o elemento a conhecer, mas será que chegamos a conhecer? Sim, apenas usemos o olhar, o tacto, o olfacto, o paladar e podemos ter certezas que tudo quanto precisamos saber está claro e conciso. Olhemos apenas para o carácter sensorial.
Por fim, e porque não podia deixar de ser, deixo, aqui, mais uma "questão de todos os dias": Será a vida apenas um preparativo para a morte? Pereira. J., 2009